RT de Grantmaking discute apoio institucional em 4º encontro da Rede

15 de julho de 2019
ORGANIZAÇÕES RESPONSÁVEIS: GIFE

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Com o objetivo de aprofundar a discussão sobre apoio institucional às organizações da sociedade civil (OSCs) para além do repasse de recursos financeiros, a Rede Temática (RT) de Grantmaking promoveu seu 4º encontro no dia 11 de julho, no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo.

Criada em 2018 como um espaço de troca para o debate sobre práticas de grantmaking, assim como a relação entre grantmakers e grantees e as diversas formas de apoiar OSCs, a RT concebeu o encontro a partir de um evento anterior, onde os membros foram questionados sobre como têm trabalhado o fortalecimento institucional das instituições que apoiam.

“Saímos do encontro com duas percepções: vimos que a Rede queria discutir o apoio às organizações para além do financeiro, como apoio técnico e mentorias, por exemplo, e também que os membros desejavam se conhecer melhor, saber o que cada um está fazendo”, comentou Karen Polaz, coordenadora de fomento e inovação do GIFE.

Oito organizações responderam positivamente a um formulário disseminado no e-mail da Rede questionando quais delas desejavam apresentar as práticas de fortalecimento institucional de seus grantees. O 4º encontro foi, portanto, a primeira parte desse movimento, com exposição de quatro cases.

Fundação Lemann

Para Aline Okada, da área de relacionamento institucional de parcerias da Fundação Lemann, em primeiro lugar, é preciso definir internamente o que se entende por desenvolvimento institucional. Ao longo dos anos, o trabalho da Fundação junto a organizações da sociedade civil ajudou a entender seu papel não como financiadora, mas viabilizadora das propostas.

Atualmente, a Fundação oferece apoio variado a mais de 50 OSCs com atuações diversas. Para atender às demandas e responder às necessidades de cada uma, são realizados desde workshops mais gerais até consultorias personalizadas sobre os temas mais solicitados, com destaque para avaliação de impacto e captação de recursos. “Entre os aprendizados, percebemos que é importante promover trocas que se espalhem dentro das organizações; criar uma rede que irá se autoengajar, o que é um desafio; ter um olhar da Fundação sobre o que o parceiro declara como importante em seu atual momento; e entender que o apoio institucional é tão importante quanto o apoio financeiro”, pontuou.

Fundação Itaú Social 

O trabalho da Fundação Itaú Social (FIS) junto a organizações de base comunitária comprometidas com o desenvolvimento de crianças e jovens e do território onde estão inseridas foi apresentado por Camila Feldberg, gerente de fomento da FIS. Depois de uma reestruturação de sua atuação, foi criado o Missão em Foco, projeto que seleciona organizações que já participaram de editais pontuais da FIS e que, além de estarem em um estágio mais maduro, tenham potencial de desenvolvimento.

São três os eixos do acompanhamento, que ao todo dura cinco anos: recursos flexíveis para a organização empregar da forma que achar melhor; formação e assessoria técnica, com a presença de um consultor na organização para entender a fundo suas necessidades; e monitoramento e avaliação do quanto a organização avança na ferramenta que mede o desenvolvimento institucional, preenchida pelo próprio grantee no começo do processo. “Nós começamos o primeiro ciclo do Missão em Foco em 2017. Com quase dois anos de programa, percebemos que as organizações se abrem depois de receber o recurso. É interessante notar como ficam relaxados e assim conseguimos estabelecer uma relação de confiança.”

Instituto Clima e Sociedade

Silvia David, gerente de doações do Instituto Clima e Sociedade (iCS), apresentou um panorama do trabalho do iCS em seus cinco portfólios: política climática e engajamento, transporte, energia, economia de baixo carbono e uso da terra. Em 2017, a organização realizou uma pesquisa para entender como os grantees enxergavam o apoio que lhes era concedido. Entre os resultados, as organizações beneficiárias apontaram que a maior demanda era apoio à gestão e estratégia.

Com um recurso recebido de uma de suas mantenedoras especialmente para capacitação institucional, o iCS implementou a Organization Mapping Tool (OMT), ferramenta composta por 70 perguntas dentro de 14 temas para apoiar a realização de um mapeamento institucional. “Nós aplicamos o questionário com 19 organizações em 2018. Entre os 14 temas, aqueles apontados como prioritários foram missão e estratégia, comunicação externa, governança, captação e relações com doadores, recursos humanos, segurança e cultura organizacional”, contou a gerente

Para ajudar a suprir essa necessidade, o iCS promoveu workshops e ações para cada um dos temas. Para apoiar a captação, por exemplo, custeou a participação de mais de 30 pessoas no Festival ABCR 2019.

Movimento Arredondar

Francisco Santos fechou a rodada de apresentações ao falar sobre o Movimento Arredondar, que passou a realizar um processo de acompanhamento das 33 organizações para as quais o recurso arrecadado com os arredondamentos é repassado. Ao todo, são quatro fatores principais de acompanhamento: prestação de contas financeiras e relatório do beneficiário (utilizado para avaliar o impacto qualitativo do Movimento no grantee) – ambos dentro do eixo monitoramento -, e realização de webinars de acompanhamento e entrega de documentos anuais de revisão.

Além disso, como forma de oficializar um suporte formativo para as organizações, o Movimento criou o Diálogos Redondos, que trata de temas de interesse dos grantees, como liderança, comunicação institucional, gestão de parcerias, avaliação de resultados, entre outros. “Quando nos chamamos de Movimento, queremos fazer junto com as organizações e pensá-las estrategicamente em médio e longo prazo. Hoje, os Diálogos Redondos são online e estão estruturados com a participação de especialistas, de uma exposição sobre a conjuntura e um painel de uma organização beneficiária.”

Troca de experiências

Em seguida da exposição, os presentes dividiram-se em três grupos temáticos para discutir diferentes aspectos da prática de grantmaking.

O grupo de formação e apoio técnico ressaltou pontos como as próprias organizações entenderem a importância do desenvolvimento institucional e o quanto o diagnóstico é relevante nesses processos, pois é uma forma de autoavaliação. A participação das lideranças nos processos também é fundamental, assim como a definição conjunta entre grantmakers e grantees de metas tangíveis de desenvolvimento institucional para que a organização sinta-se parte do monitoramento e avaliação.

Em formação e articulação em rede, foram discutidas diferentes perspectivas de rede: formações em rede e formação das redes tanto de grantmakers como de grantees. Os participantes apontaram que para um trabalho em aliança, é preciso a priorização de um desenvolvimento comum e uma figura que atue como ponto focal, além de ações que possam caminhar na direção contrária de alguns paradigmas, como a competição por recursos. Nesse sentido, a ideia é pensar como as instituições grantmakers podem criar uma cadeia de desenvolvimento institucional que mude a lógica de competição e propague a lógica de rede.

Por fim, o grupo de processos de gestão interna para implementação dos apoios institucionais apontou a importância de, ao mesmo tempo, ter processos estruturados e investir na relação entre grantmakers e grantees, amenizando as relações de poder entre quem doa e quem recebe. É a partir de relações consolidadas desde o início de uma parceria e/ou financiamento que se estabelece confiança e transparência. Entender que é preciso revisitar metodologias e que essas não são mais importantes do que o resultado que se pretende alcançar são outras atribuições dos doadores apontadas pelo grupo.

 Próximos passos

O encontro também foi palco de um convite para que os presentes participem da Plataforma Cases. Lançada pela Rede Temática de Gestão Institucional, a iniciativa, que ainda está em versão beta e inclusive conta com um nome provisório, tem a proposta de reunir casos sobre gestão de talentos, governança, indicadores de monitoramento, políticas, prestação de contas e outros temas.

O próximo encontro da RT de Grantmaking está programado para acontecer ainda em 2019 com data a ser definida e contará com a segunda rodada de apresentação de casos.