Sistematização dos encontros da Rede Temática de Grantmaking do GIFE em 2022
Muito se fala em uma sociedade civil forte como ator fundamental para a defesa da democracia no Brasil. Para isso, é importante que as organizações da sociedade civil (OSCs) sejam financiadas e apoiadas sob múltiplos formatos, nos seus mais diferentes territórios e temas de atuação. Discutir aspectos conceituais e práticos sobre os modos de fazer grantmaking é um dos principais objetivos da Rede Temática (RT) de Grantmaking do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE).
O grupo reúne diferentes organizações associadas ao GIFE que praticam a doação em seu dia a dia e consideram a importância de refletir coletivamente sobre os desafios, as oportunidades e as estratégias para um investimento social privado (ISP) brasileiro mais doador.
Atualmente, seis organizações se dividem na coordenação do grupo: Instituto ACP, Instituto Clima e Sociedade, Instituto humanize, Instituto Ibirapitanga, Itaú Social e Laudes Foundation.
Se comparada a outras RTs do GIFE, a Rede de Grantmaking foi lançada recentemente, no X Congresso GIFE, em 2018, durante a mesa: Cultura de doação e grantmaking: superando barreiras para um país mais doador.
Nesses quatro anos de existência, entretanto, foi possível promover inúmeros debates, que incluíram o próprio significado da palavra que dá nome à rede, além de reflexões como o que significa fazer doações a organizações da sociedade civil em um país tão desigual como o Brasil? Que tipos de apoios e financiamentos essas instituições mais precisam? Quais são as principais análises que organizações grantmakers devem fazer sobre sua própria prática?
O presente material tem como objetivo fazer uma sistematização não exaustiva dos debates trazidos pelos quatro encontros da Rede Temática de Grantmaking em 2022, sendo três realizados no formato online e um de forma presencial, em São Paulo, além de propor um chamamento para que mais organizações destinem tempo, recursos e esforços no financiamento, apoio e fortalecimento da sociedade civil brasileira nos próximos anos.
1º encontro de 2022
Data: 12 de abril de 2022
Formato: Online
Tema: Fortalecimento das organizações da sociedade civil
Debatedores:
- Adriana Barbosa, CEO da Plataforma PretaHub e Presidente do Instituto Feira Preta;
- Lucas Mauricio Silva, da equipe de relacionamento com parceiros e Endowment do Instituto Rodrigo Mendes;
- Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra;
- Domingos Armani, sociólogo, cientista político e consultor em desenvolvimento institucional de organizações da sociedade civil (mediação).
Mais do que promover um diálogo entre organizações doadoras, o primeiro encontro de 2022 da Rede Temática de Grantmaking do GIFE foi um espaço de escuta do conhecimento, da expertise, das experiências e visões de organizações da sociedade civil sobre uma agenda que, a cada dia, vem ganhando mais importância: o fortalecimento institucional das OSCs.
O tema torna-se ainda mais relevante diante dos dados do Censo GIFE 2020. 64% dos investidores sociais afirmaram repassar recursos para OSCs, mobilizando um montante de R$ 2,16 bilhões. Entretanto, embora o apoio institucional às organizações tenha aumentado em 17 pontos percentuais sua presença no campo, mais da metade dos respondentes ainda não adota essa estratégia de fortalecimento da sociedade civil.
Realizado de forma online, o evento contou com a participação de Adriana Barbosa, CEO da Plataforma PretaHub e presidente do Instituto Feira Preta, Lucas Mauricio Silva, da equipe de relacionamento com parceiros e Endowment do Instituto Rodrigo Mendes, e Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra, que comentaram sobre o significado de fortalecimento institucional, os principais desafios enfrentados em seu campo de atuação e quais experiências e aprendizados têm acumulado nesse processo de receber apoio destinado ao desenvolvimento de suas organizações.
Um dos pontos debatidos diz respeito a avanços e conquistas em agendas como equidade racial. Ao mesmo tempo que a notícia é boa, requer que OSCs atuantes nesse campo repensem e adaptem suas práticas, o que demanda tempo, empenho e recursos financeiros.
Outro ponto do diálogo foi o apego, ainda grande, por parte de grantmakers, ao financiamento pontual, voltado especialmente a projetos com prazos pré-definidos de 12, 18 ou 24 meses. Os participantes reforçaram que mudanças perenes em agendas sociais complexas, como é o caso do racismo, machismo, sexismo e educação inclusiva de pessoas com deficiência (PCDs) – temas trabalhados pelas organizações presentes no encontro -, não são possíveis apenas com apoios que têm começo, meio e fim.
A própria relação entre grantmakers e grantees, os doadores e beneficiários, também foi abordada. Não é incomum encontrar organizações doadoras que, ao buscar organizações da sociedade civil para apoio, alegam que essas não estão prontas: têm baixo nível de formalização e ausência de requisitos como auditoria externa e documentação em ordem. Isso porque, durante décadas, essas organizações foram invisibilizadas e não tiveram as mesmas oportunidades de desenvolvimento e aprendizado que outras. Além disso, a exclusão de parte das OSCs também implicou na não compreensão das terminologias e nomenclaturas usadas pelo campo de grantmaking, que conta com uma variedade de conceitos em inglês.
O tópico da relação entre as partes também engloba confiança e transparência, aspectos necessários para que, de um lado, a organização se sinta à vontade para explicar suas necessidades para o parceiro, e esse, por sua vez, consiga compreender os desafios enfrentados no campo em que a organização atua e nas ações desenvolvidas por ela.
O encontro contou, ainda, com uma breve apresentação da Conjunta, plataforma que visa promover o desenvolvimento institucional de organizações da sociedade civil. A nova iniciativa está sendo desenvolvida por múltiplas organizações grantmakers e profissionais do campo, com o objetivo de realizar uma reflexão aprofundada e colaborativa sobre práticas de gestão, conhecimento, ferramentas e recursos que fortaleçam a missão social das OSCs.
Confira as principais reflexões do encontro:
- Fortalecimento institucional está relacionado com uma visão mais sistêmica da instituição, observando aspectos como a relação com a equipe e com os apoiadores, modelos de governança, recursos aportados, entre outros;
- Apoiar o fortalecimento institucional de determinada organização significa aceitar que está apoiando a visão de mundo daquele sujeito político que promove ações em determinado território, agenda e recorte da população;
- O que mais tem impacto no campo não são projetos com começo, meio e fim, mas organizações que constroem trajetórias duradouras de atuação;
- Organizações sociais atuam em agendas e temas complexos, que não serão resolvidos, melhorados ou alterados apenas a partir de apoios pontuais;
- Para que uma organização consiga atuar para alcançar sua missão e objetivos, é necessário uma base organizacional que viabilize sua atuação;
- A lógica de apoios de curto prazo e voltados apenas a projetos não só inviabiliza o desenvolvimento e fortalecimento institucional das OSCs, mas gera incerteza, angústia e sofrimento mental para as organizações e suas equipes;
- Financiadores e instituições doadoras muitas vezes podem oferecer mais do que o recurso financeiro, como mentorias, apoios técnicos e promoção de conexões com outros apoiadores e parceiros.
2º encontro de 2022
Data: 20 de junho de 2022
Formato: Online
Tema: O processo de seleção e grants realizado por MacKenzie Scott para organizações da sociedade civil brasileiras em 2022
Debatedores:
- Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá;
- Eugenio Scannavino Netto, fundador e coordenador do Projeto Saúde e Alegria (PSA);
- Camila Feldberg, gerente de fomento no Itaú Social e uma das coordenadoras da Rede Temática de Grantmaking (mediação).
De acordo com estimativas da Forbes, MacKenzie Scott, autora, ativista e filantropa, já doou um total de 14,4 bilhões de dólares para mais de 1.500 organizações no mundo todo desde seu divórcio de Jeff Bezos, CEO da Amazon, em 2019. Em 2022, mais precisamente em março, foi anunciado que a filantropa havia escolhido 465 organizações da sociedade civil para doar 3,8 bilhões de dólares, sendo 16 organizações brasileiras.
O segundo encontro da Rede Temática de Grantmaking do GIFE em 2022 teve como objetivo entender o processo de seleção das organizações, os critérios utilizados e todas as etapas percorridas até a concretização da doação, buscando inspirar as práticas de grantmaking no Brasil.
Para isso, o grupo contou com a participação de Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá, e Eugenio Scannavino Netto, fundador e coordenador do Projeto Saúde e Alegria (PSA), representantes de duas organizações da sociedade civil (OSCs) escolhidas para a doação.
As instituições tiveram experiências diferentes no processo de recebimento da doação, o que indica, possivelmente, que ainda não há uma metodologia única para os repasses financeiros da filantropa. Se com uma das instituições o processo se estendeu por alguns meses, inclusive com solicitações para que a organização apresentasse seus propósitos e agenda de atuação, a outra passou por menos etapas e, desde o início, já sabia que se tratava de um processo que poderia resultar em uma doação.
Nos dois casos, entretanto, o ponto comum foi a exigência de sigilo absoluto sobre o repasse, bem como o poder conferido às donatárias: elas deveriam escolher se preferiam receber o recurso em uma ou mais parcelas, quando e sob qual formato.
O processo de prestação de contas é simplificado: cada organização deve produzir um relatório anual de, no máximo, três páginas, durante os três primeiros anos a partir do apoio para que a doadora possa compreender de que forma o recurso está sendo utilizado e qual impacto está produzindo.
Um dos principais pontos do debate foi a importância da doação de recursos livres, isto é, desatrelado da execução de projetos específicos, considerando a instabilidade de ter somente recursos pontuais e passageiros, que não cobrem custos operacionais das instituições.
A doação livre significa possibilidades diferentes para cada organização donatária. Durante o encontro, falou-se, por exemplo, sobre a possibilidade do recurso permitir a criação ou o incremento de um fundo patrimonial, o que, por sua vez, poderia significar maior sustentabilidade e segurança financeira para as organizações, aspectos fundamentais para seu fortalecimento e atuação.
As organizações também compartilharam percepções e aprendizados a partir da doação realizada por MacKenzie Scott, como, por exemplo, a vontade de manter relações de proximidade com doadores, o que possibilita um processo de aprendizado para grantmakers sobre como doar mais e melhor e os efeitos disso.
Confira as principais reflexões do encontro:
- Processos de doação que questionam a atuação da organização podem ser cansativos quando as informações já estão detalhadas no site da instituição;
- Importância de manter documentações, relatórios e auditorias em dia e publicadas no site da instituição e, se possível, traduzidos para o inglês;
- Uma grande doação não significa, necessariamente, que a beneficiária ficou mais rica, mas que ficou mais fortalecida para buscar seus propósitos e missão;
- Importância da constituição de endowments para estabilidade financeira das organizações;
- O trabalho de captação de recursos ainda ocupa mais da metade do tempo das equipes, esforço que poderia ser dedicado a projetos ou outras frentes;
- Recursos livres permitem que organizações invistam em infraestrutura, na capacitação das equipes e em custos operacionais;
- Importância da escolha, no caso de MacKenzie Scott, pela doação de recursos a instituições maiores e reconhecidas, que comprovadamente trabalham o fortalecimento de outras organizações menores, na ponta, as quais grandes investidores não conseguiriam acessar diretamente;
- Decisões sobre os investimentos e os temas de enfrentamento dentro da causa racial não podem ser feitas exclusivamente por pessoas e organizações brancas, reforçando a importância de processos de decisão sob responsabilidade de pessoas negras;
- O apoio realizado por organizações intermediárias, como os fundos independentes, não precisa ser, necessariamente, sob o formato de repasse de recursos, mas também promovendo articulações entre doadores e organizações menores, da ponta.
3º encontro de 2022
Data: 8 de setembro de 2022
Formato: Online
Tema: Como associados GIFE realizam seleção e acompanhamento de organizações que recebem grants
Debatedores:
- Erika Sanchez Saez, diretora executiva do Instituto ACP;
- Elizabeth Mac Nicol, diretora da B3 Social;
- Pamela Ribeiro, coordenadora de projetos especiais no GIFE (mediação).
O terceiro encontro de 2022 da RT de Grantmaking do GIFE retomou as discussões sobre os processos de doação para OSCs brasileiras realizados pela filantropa MacKenzie Scott e convidou duas organizações grantmakers com perfis distintos – um instituto familiar e uma organização empresarial – para dividir com o grupo seus processos de escolha das organizações apoiadas e destinação de recursos.
Criado em 2019, o Instituto ACP (IACP) nasceu com o propósito de contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento institucional de organizações da sociedade civil brasileiras para que sejam vetores de desenvolvimento no país. A escolha pela área de atuação conversa diretamente com o que a família de empreendedores acredita ser seu maior potencial de contribuição: desenvolvimento e aprimoramento de processos de gestão e governança das OSCs.
Em reuniões periódicas, o conselho bate o martelo sobre temas sociais que considera importantes após uma reflexão analítica sobre o contexto do país. A partir disso, a equipe faz uma busca ativa por organizações nas agendas definidas e dispara cartas convite para que as instituições enviem e apresentem seus planos de desenvolvimento institucional e suas prioridades ao IACP. Depois de uma apresentação ao conselho e equipe executiva, são selecionadas as OSCs que receberão apoio de três anos.
Apesar de o contrato ser de doação livre, a OSC deve destinar o recurso ao plano de desenvolvimento institucional apresentado, mesmo que esse mude ao longo do processo de três anos de apoio. São realizadas duas reuniões anuais para que o IACP possa entender os progressos e desafios de cada organização. O Instituto oferece, ainda, horas de consultoria para mentorias, coaching para as lideranças e o espaço da comunidade de aprendizagem, entre outros momentos de troca e aprendizado.
Já a B3 Social, associação sem fins lucrativos responsável por integrar e coordenar os projetos de investimento social privado e voluntariado da B3, a bolsa de valores do Brasil, atua com foco na redução das desigualdades sociais a partir de três agendas: educação pública (principal frente), projetos incentivados e ações emergenciais.
A seleção das organizações é feita por carta convite, edital e busca ativa. O processo da B3 é maior se comparado ao do IACP, uma vez que é necessário obedecer às regras da companhia. Depois do preenchimento de um formulário denso, os documentos enviados pelas organizações passam por análises técnicas, de compliance e de saúde financeira, e a escolha das OSCs é feita pelo conselho.
As parcerias são baseadas em confiança e o monitoramento dos projetos acontece a partir de um formulário padrão que é personalizado a partir da resposta de cada OSC, em reuniões individuais com representantes de diferentes setores da B3 Social. Além dos apoios financeiros, a instituição também promove, a depender das necessidades das OSCs, diálogos entre especialistas da companhia e as organizações, visando a melhoria de processos e das ações. Acesse a apresentação usada no encontro.
Confira as principais reflexões do encontro e os desafios enfrentados e percebidos por organizações grantmakers:
- Se a vontade é por uma mudança da filantropia, será necessário mudar as práticas de todos ou grande parte dos investidores;
- Gestão de pessoas ainda é um tema pouco trabalhado pelas organizações sociais, e não aparece como prioridade em planos de desenvolvimento institucional;
- Como desconstruir padrões de relacionamento entre financiador e financiado? A organização donatária precisa se sentir confortável em conversar abertamente com o financiador, enquanto o financiador precisa colocar sua opinião e não ser compreendido como uma ordem ou ameaça de descontinuidade do apoio;
- Organizações sociais aparentam receio de apresentar metas e números verdadeiros nos relatórios iniciais por insegurança de não alcançá-los e serem cobradas pelo financiador. Como transformar esse contexto em relações de confiança?;
- Os conselhos das organizações grantmakers não são formados por especialistas nas agendas e temas apoiados;
- Como promover maior diversidade nos conselhos e pensar as melhores maneiras para que a caminhada e as parcerias sejam fonte de aprendizagem para todos, inclusive para os próprios conselheiros?;
- Como promover processos mais abrangentes e democráticos de seleção de organizações considerando equipes pequenas de organizações grantmakers e pouca capacidade de analisar grandes volumes de inscrições?;
- Ainda nota-se competição velada entre organizações sociais;
- Como todas as etapas de um processo de seleção podem promover aprendizados e momentos de reflexão para organizações da sociedade civil, desde o formulário de inscrição até as etapas de monitoramento?;
- Ainda é importante falar sobre gestão e governança dos próprios institutos e fundações, para criar novas práticas e aprimorar ações.
4º encontro de 2022
Data: 18 de novembro de 2022
Formato: Presencial, no Instituto Unibanco, em São Paulo (SP)
Tema: Temas e dilemas que desafiam a prática do grantmaking e o fortalecimento de organizações da sociedade civil
O último encontro de 2022 da RT de Grantmaking marcou a volta, com os devidos cuidados, às reuniões presenciais.
Realizado no Instituto Unibanco, em São Paulo, o evento contou com a participação de cerca de 14 organizações em uma dinâmica de open space com a pergunta: quais são os temas e dilemas que desafiam a prática do grantmaking e o fortalecimento das organizações da sociedade civil que precisamos discutir aqui e agora?
Os representantes das organizações foram divididos em três mesas para fazer duas rodadas de debates. As discussões foram pautadas por alguns temas norteadores dentro do universo da prática de grantmaking e a relação entre as organizações doadoras e donatárias:
- Como apoiar OSCs que apresentam fragilidades técnicas e/ou institucionais?;
- Como tornar OSCs-chave multiplicadoras de boas práticas?;
- Como receber, e o que fazer, com feedback de grantees sobre práticas de grantmaking?;
- Estratégias de saída de apoios institucionais;
- Onde/como conseguir mais recursos?.
Depois dos debates nos grupos, as discussões foram sistematizadas e compartilhadas com todos os participantes.
Confira a seguir as principais reflexões e aprendizados:
- Diversificar o olhar para múltiplos tipos de OSCs nos processos de seleção – com formatos de formulários, editais e cartas convite que contemplem diferentes tipos de organizações -, além de ter atenção às necessidades de cada uma delas de acordo com suas especificidades, é uma forma de apoiar o desenvolvimento do campo como um todo;
- Todos os apoios podem ter pelo menos um percentual de recursos livres, e o apoio institucional não pode ser somente para quem já está fortalecido;
- É necessário investir em formação das OSCs e em um trabalho com as lideranças;
- Ao fortalecer organizações consideradas mais frágeis – que precisam de apoios de longo prazo -, doadores estarão contribuindo para o fortalecimento do setor;
- Desafios de ordem institucional e financeira são transversais. Sendo assim, as capacidades institucionais e a sustentabilidade financeira são pontos de partida e de saída que devem ser observados de perto;
- O início das parcerias e apoios já deve considerar o potencial de multiplicação como indicador de sucesso da OSC;
- Alta rotatividade de profissionais nas organizações, principalmente em posições estratégicas, como na diretoria, dificultam o desenvolvimento de indivíduos com potencial multiplicador;
- É necessário que grantmakers estejam verdadeiramente abertos para ouvir os feedbacks e fazer uma autoanálise se há disposição genuína para mudar alguma coisa, considerando o potencial do feedback para aprimorar seus próprios processos;
- Ter em mente que nunca haverá consenso entre todos os grantees e que não é função do grantmaker agradar a todos em todos os aspectos;
- Avaliar se os próprios doadores sabem realizar feedback sincero e não acusatório para as organizações apoiadas;
- É importante que, desde o início de uma parceria, a organização grantmaker tenha em mente o prazo limite para o apoio e os critérios que serão utilizados para terminar o processo com uma OSC;
- A finalização do apoio deve ser feita de forma transparente, com retornos sinceros e verdadeiros e com antecedência, minimizando eventuais efeitos e dependências por parte dos grantees;
- Trazer mais atores para o campo da doação se faz necessário e uma estratégia para isso é investir na comunicação de boas práticas e na importância de uma cultura de doação, bem como na realização de parcerias entre instituições doadoras para potencializar os apoios;
- Produzir e compartilhar boas experiências como resposta ao desconhecimento e desconfiança quanto à prática de doação.
2023: por um ISP mais doador
Enquanto espaço seguro para que associados GIFE e outras organizações possam debater a melhoria das práticas de doação no investimento social privado, ao longo desses quatro anos de existência a Rede Temática de Grantmaking promoveu e participou de encontros, produziu e divulgou conhecimento e debateu ideias para promover avanços e novas formas de apoiar organizações da sociedade civil.
Atualmente, a página da RT no portal do GIFE conta com quase 30 reportagens publicadas, que tratam sobre temas de interesse da área e os principais debates realizados durante os encontros do grupo.
Além disso, em 2020, o GIFE, com o apoio do Instituto ACP, Instituto Clima e Sociedade, Instituto Humanize e Instituto SICOOB e em conexão com a RT, criou o GrantLab, uma plataforma de compartilhamento de conhecimento prático sobre grantmaking. O portal traz artigos, guias, cases, infográficos, podcasts, vídeos e outros formatos de conteúdo destinados principalmente para fundadores, conselheiros, diretores e equipes executivas de instituições financiadoras, mas também para organizações da sociedade civil, consultores, acadêmicos e outros profissionais do setor social.
Para 2023, a RT irá continuar atuando para qualificar cada vez mais a atuação de organizações doadoras do ISP brasileiro e chamar atenção para temas importantes dentro da agenda de grantmaking.
Serão promovidos novos encontros da Rede para troca de conhecimentos e experiências, bem como a ocupação de outros espaços, como a 12ª edição do Congresso GIFE e produção de conteúdo tanto no portal do GIFE como no GrantLab.
Os esforços já surtiram efeito, com o aumento de organizações apoiando projetos de terceiros e olhando com mais dedicação e empenho ao campo das OSCs.
Que 2023 possa ser um ano de novas conexões e atores somando forças para promover avanços na filantropia e nas práticas de grantmaking, sobretudo em temas fundamentais, como o fortalecimento de organizações da sociedade civil para afastar ameaças e assegurar a democracia brasileira.